publicado em 04 de janeiro de 2023

por Diego Gloria

Neste dia eu assistia ao que prometia ser um grande jogo de futebol americano. Cincinnati Bengals e Buffalo Bills jogavam no gelado Paycor Stadium em Cincinnati, Ohio. É final de temporada regular e os jogos transmitidos às segundas à noite são considerados os principais da rodada e com grande audiência na tv aberta nos EUA.

Ainda no primeiro quarto do jogo, após bloquear um jogador adversário, Damar Hamlin, Safety do Buffalo Bills, se levanta para segundos depois cair inconsciente no chão. A partida imediatamente foi paralisada. A reação dos jogadores em campo dava uma ideia da gravidade da situação. O estádio lotado com mais de 65.000 pessoas estava em silêncio. Quem assistia (como eu) não conseguia entender o que teria acontecido.

Informações dão conta que Damar sofreu um mal funcionamento no sistema elétrico do coração em função da pancada recebida, fazendo com que o coração parasse de bater no ritmo adequado. O coração parou de bombear sangue.

O atendimento ao jogador foi rápido. Eram 19h55 (hora local) quando ele caiu em campo. Aproximadamente 10 segundos após a queda, os médicos do Buffalo Bills já estavam com Damar prestando os primeiros socorros com suporte de outros médicos do estádio. Sabemos agora que ele recebeu massagem cardiorrespiratória por diversos minutos até que seus batimentos fossem restabelecidos, além de apoio com Desfibrilador Externo Automático (DEA). Às 20h10 ele foi retirado de campo por uma ambulância. Às 20h25 a ambulância deixou o estádio em direção ao hospital, que fica próximo ao estádio.

Toda esta coordenação e resposta médica foi possível em função do Plano de Ação de Emergência (PAE) que a NFL exige que todas as equipes tenham. Este plano deve contemplar os cenários possíveis de emergência em um jogo de futebol, incluindo traumas severos. É exigido ainda das equipes que simulados sejam realizados com a finalidade de avaliar o protocolo e realizar ajustes. Um hospital de referência especializado em trauma deve ser indicado para remoção em caso de acidentes. Uma hora antes do início de cada partida, o PAE é discutido entre oficiais do jogo, equipe médica dos clubes e equipe médica do estádio. As equipes se apresentam, as responsabilidades de cada um são ratificadas e toda a logística e protocolo são revisados. Um checklist com os equipamentos como ambulância, DEA e outros é conferido, incluindo a confirmação de disponibilidade, localização e condições de operação.

Em um memorando divulgado ontem (03/01), Roger Goodell, o Comissário da National Football League (NFL), a liga responsável pelo futebol americano, afirmou:

1. Que o atendimento foi prontamente prestado por pessoal treinado em implementar os protocolos do plano de emergências médicas;

2. A NFL está em contato frequente com os times envolvidos, família e equipe médica responsável;

3. A NFL coloca à disposição das partes envolvidas diversos recursos de suporte, incluindo aqueles relacionados ao trauma psicológico.

Os 3 aspectos destacados no memorando fazem parte do gerenciamento de uma situação de crise: protocolos formalizados através do PAE, comunicação clara e direta com um porta-voz e suporte multidisciplinar para as partes envolvidas.

Lesões não são incomuns na NFL, inclusive com casos bastante severos. Contudo, o caso de Damar foi uma batalha pela vida. Caso não tivesse recebido o socorro devido em tão curto espaço de tempo, talvez não houvesse esperança de recuperação. O planejamento meticuloso e a capacitação dos envolvidos em cada etapa do PAE impediram que Damar perdesse sua vida em campo. Enquanto escrevo este artigo, ele ainda permanece internado em estado crítico e as próximas horas serão importantes para avaliação médica e prognóstico.